Não sou chegado a brincadeiras. Infelizmente.
Nunca fui.
Não sei por qual razão o meu DNA do sorrir foi gravado assim — como se carregasse o mundo sobre os ombros.
E como não me martirizar, não me condoer de vergonha, quando — num surto de falsa leveza — atravesso o carro no caminho de uma amiga tão querida, impedindo seu caminhar, só para brincar?
Não sei.
Passada a cena, e a vergonha da causadora chatice, vem o mal-estar. Logo com uma colega tão querida… (!) E eu não sei brincar! Não faz meu estilo…
Meu Deus.
E quais palavras posso colher para expressar minhas desculpas? Não sei.
Idiota!
(Não aquele — o do Dostoiévski, puro em sua ingenuidade.)
Sou um outro tipo: um bom sujeito, talvez… mas que carrega um tribunal dentro de si.
Mas era um final de tarde de terra molhada, fresca, prenunciando — ou se apressando em ser — primavera. 🌺🌿🍀🍁🍂🌾
Foi o seu caminhar, sim.
Aqueles passos largos e firmes, o olhar reto no horizonte, e aquele sorriso que sempre está prestes a brotar… Sim.
É a minha querida amiga. A que sempre soube destruir minhas muralhas e arrancar boas risadas.
Eu, do carro, estacionei de lado, no caminho dela. Baixei o vidro da porta devagar, quase como quem pede desculpas.
Ela já vinha sorrindo e atirou, antes mesmo que eu dissesse algo:
— Seu chato! Pra onde já está indo a essa hora? Não trabalha mais, não?
Eram 15h45. E mesmo com a bronca bem-humorada, o bosque todo pareceu sorrir.
Uma silhueta loira, caminhando em passos treinados, em sandália alta, rumo ao estacionamento…
Seu vestido florido de menina emoldurava todo seu corpo de mulher.
As flores balançavam pra lá e pra cá, como se quisessem se juntar à paisagem da alameda do nosso Bosque do Passaré.
Nossas manhãs e tardinhas são sempre iluminadas por essas belíssimas paisagens:
um dia são pássaros, flores desabrochando, lindos saguis, a vida passando…
— e, em dia de sorte, uma mulher admirável atravessando o caminho.
Não apenas loira. Assertiva, firme, de pensamento ágil e presença imensa.
Atravessava o bosque como quem conhece os atalhos da vida — e, sem saber, deixava no ar todo o encantamento de um dia de primavera.
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Julio César
Fortaleza – CE, 22/05/2025.