Tive o privilégio de presenciar — e participar ativamente — da transição dos sistemas de comunicação no Brasil, a partir da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, onde atuei por sete anos, parte deles como Agente dos Correios. Mais tarde, já em uma instituição financeira onde ainda hoje presto serviços, continuei a acompanhar de perto as transformações tecnológicas que moldaram o nosso tempo.
Agencia dos Correios em Baturité - CE.
Participei da era das mensagens telegráficas transmitidas via rádio USB, das máquinas de escrever Olivetti, dos aparelhos de Telex e Fax, e assisti à chegada dos primeiros computadores e servidores. Vi o uso de disquetes de variados tamanhos e capacidades, a era dos CDs e outros suportes físicos de armazenamento, até chegarmos à atualidade digital.
Sem dúvida, um dos marcos mais significativos dessa trajetória foi o advento do Sistema de Pagamentos Brasileiro — SPB. Com ele, tornou-se possível enviar qualquer quantia em dinheiro para qualquer lugar do país, com o valor disponível em poucos minutos. Um salto gigantesco em eficiência e segurança.
O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) é um sistema de infraestrutura financeira que abrange todas as operações de transferência de fundos, operações com moeda estrangeira, ativos financeiros e valores mobiliários no Brasil. O SPB visa garantir a eficiência, segurança e estabilidade do sistema financeiro, sendo regulamentado e supervisionado pelo Banco Central do Brasil (BC).
O novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) foi implantado em abril de 2002, com a entrada em operação do Sistema de Transferência de Reservas (STR). A CIP (Câmara Interbancária de Pagamentos), que faz parte da estrutura do SPB, entrou em funcionamento em dezembro de 2002.
O sistema de compensação de cheques também evoluiu notavelmente — embora poucos saibam o quanto o Brasil avançou nesse aspecto. Nos Correios, valores eram enviados por meio do Vale Postal, algo próximo a um cheque pós-datado.
Já nos bancos, migramos de remessas físicas de numerário e Ordens de Pagamento — processos lentos e complexos — para soluções instantâneas, digitais e intuitivas. Intuitivas, porque mesmo sem treinamento técnico, qualquer pessoa consegue realizar operações com facilidade, por meio de interfaces simples e orientações claras — como é o caso do PIX, em que poucos toques bastam para completar uma transação.
Hoje, armazenamos arquivos na nuvem e fazemos transferências financeiras pelo PIX. O uso de cheques foi drasticamente reduzido. Poucos ainda carregam talonários, dinheiro em espécie ou até mesmo carteiras físicas.
Ainda me lembro dos tempos em que, em agências bancárias menores, havia apenas um único computador, com uma tela exclusiva, utilizado por um digitador responsável por registrar documentos já codificados — seja no sistema da contabilidade, seja na conta corrente. O equipamento era mantido em uma sala fechada e climatizada, como se guardasse um segredo valioso. Havia também um ambiente separado apenas para a impressora, que hoje nos parece trivial.
Com o tempo, familiarizamo-nos com os programas da Microsoft — empresa fundada por Bill Gates e Paul Allen na década de 1970 — cujo pacote Office se tornaria uma ferramenta indispensável em escritórios e instituições, revolucionando o cotidiano de milhões de pessoas no mundo inteiro.
Mas, se por um lado avançamos em velocidade e comodidade, por outro, surgiram novos desafios. E talvez o mais urgente deles hoje seja a segurança bancária. Nada simples. Não há um único dia em que alguém ligue o celular sem ser bombardeado por mensagens, e-mails ou ligações suspeitas, muitas vezes disfarçadas de notificações legítimas, todas tentando induzir o usuário ao erro — facilitando a ação de fraudadores e criminosos digitais.
A transição entre o antes e o depois da Internet
Foi, de fato, um grande avanço para o Brasil. Ainda assim, parte da população faz críticas, por não compreender a profundidade dessas transformações. Como um jovem nascido após 1995 poderia imaginar um mundo sem internet, sem celular, sem conectividade?
Essa mesma modernização também chegou ao processo eleitoral. Saímos das antigas cédulas de papel — vulneráveis a fraudes e contagens manuais — para urnas eletrônicas seguras, auditáveis e céleres, respeitadas internacionalmente.
Em poucas horas, o país inteiro conhece o resultado das eleições. Enquanto isso, nos Estados Unidos, ainda se enfrenta longas filas, votos por correio e apurações que duram dias ou até semanas. Mais uma vez, ficamos à frente.
Mas os avanços não se restringem ao campo interno. Também no cenário internacional, o Brasil tem surpreendido — agora não apenas com inovação tecnológica, mas com protagonismo geopolítico.
O Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco do BRICS, simboliza essa nova fase. Trata-se de um projeto estratégico, que visa promover a despolarização do comércio internacional, reduzir a dependência do dólar, financiar projetos sustentáveis e fortalecer a soberania econômica dos países em desenvolvimento.
Sob a presidência de Dilma Rousseff, o banco tem ganhado prestígio e respeito global. Sua atuação é celebrada por líderes de Estado ao redor do mundo, como se pode ver neste vídeo oficial:
https://youtu.be/b6v8xySKAb8?si=4MKg1tsn9-MA_LTk
O Brasil está diante de uma oportunidade histórica: liderar não apenas em inovação tecnológica, mas no redesenho das relações econômicas globais. Um avanço silencioso, mas gigantesco.
Um dos principais objetivos do banco é permitir que os países membros realizem transações em suas próprias moedas, sem a obrigatoriedade de converter para dólares. É evidente que essa proposta incomoda os Estados Unidos, cuja hegemonia se baseia no domínio do sistema financeiro global.
Aliás, vale uma provocação: os EUA realmente têm lastro para sustentar suas operações e dívidas — internas e externas?
A busca por uma nova ordem econômica internacional aponta para a necessidade de sistemas de pagamento alternativos, capazes de sustentar negócios bilaterais e multilaterais entre os países do BRICS.
A busca por uma nova ordem econômica internacional aponta para a necessidade de sistemas de pagamento alternativos, capazes de sustentar negócios bilaterais e multilaterais entre os países do BRICS.
Essa necessidade tornou-se ainda mais evidente diante do tarifaço imposto recentemente pelos Estados Unidos — uma política protecionista que vem desestabilizando cadeias de produção globais, encarecendo produtos e acirrando disputas comerciais.
O aumento de tarifas sobre bens importados, sobretudo vindos da China e de países emergentes, revela a fragilidade de um sistema financeiro centralizado no dólar e controlado por interesses unilaterais. Nesse cenário, a construção de novas alternativas monetárias e comerciais entre países do Sul Global deixa de ser apenas uma aspiração e passa a ser uma questão de sobrevivência econômica e soberania política.
Atualmente, o BRICS é formado por 11 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. O grupo, que nasceu com quatro membros (Brasil, Rússia, Índia e China), incorporou a África do Sul em 2011 e, em 2024, ampliou-se com a entrada dos demais seis países.
O futuro está em movimento. E, silenciosamente, o Brasil se posiciona como uma das vozes mais influentes desse novo tempo.
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Julio César Fernandes
Este é um texto opinativo. As ideias aqui expressas refletem a visão pessoal do autor sobre os temas abordados. O autor também escreve poemas, crônicas e reflexões literárias.
Fortaleza – CE, 03/05/2025.