Hoje, um grupo de mulheres foi ao espaço.
Não é roteiro de ficção. É 24 de abril de 2025.
Katy Perry, uma margarida na mão e uma música na alma, flutuando sobre o mundo e cantando: What a Wonderful World.
E por mais que haja quem critique — e com razão — o elitismo, o custo, a teatralidade da coisa toda… há algo que ninguém pode tirar daquele momento: ver a Terra de fora.
Imagine isso!…
Nenhum som, nenhum barulho de fundo, nenhum anúncio, notificação ou buzina. Só o vazio. A vastidão.
E, no meio disso, um pontinho azul. Um planeta suspenso como um sopro, girando silenciosamente no nada.
Ali, nessa cápsula flutuante, não existem países. Nem religião. Nem política, nem guerra, nem ego.
Só a certeza de que tudo o que somos, tudo o que amamos, tudo o que tentamos proteger ou destruir — cabe naquele grão de poeira cósmica chamado Terra.
Quem vê isso muda por dentro.
É o que os astronautas chamam de “Overview Effect” — um tipo de iluminação.
Uma dor suave e profunda, por perceber que vivemos cercados por fronteiras que nós mesmos inventamos.
E um alívio também: ainda há tempo. Ainda há planeta. Ainda há beleza.
Ver a Terra do espaço talvez seja a forma mais poderosa de lembrar que a vida é frágil, e que cada minuto que passamos odiando, acumulando ou competindo… é um minuto desperdiçado do lado de cá da atmosfera.
Talvez, um dia, não sejam apenas artistas, milionários ou executivos que verão a Terra lá de fora.
Talvez um dia, cada ser humano possa sentir, com os próprios olhos, o milagre que é estar vivo.
“Lá de cima, não há diferenças. Lá de cima, só existe um lar. E a Terra não tem backup.”
Para reflexão
Fico me perguntando: Se todos os bilionários da Terra pudessem ver esse mesmo pontinho azul girando silenciosamente no vazio, mudariam eles?
Sentiriam menos vontade de possuir o mundo — e
mais desejo de cuidar dele?
Sentiriam empatia pelos que têm tão pouco, enquanto eles têm tanto?
Talvez sim. Talvez o impacto de ver a Terra tão frágil, tão sem fronteiras, tão sem propriedades visíveis, pudesse plantar uma semente de compaixão.
Mas talvez não.
Porque o espaço, como todo espelho, apenas reflete o que já existe dentro de nós.
Se houver humildade, ele a engrandece.
Se houver ganância, ele também a amplifica.
O Overview Effect não transforma corações endurecidos — apenas revela o quanto estamos, ou não, abertos ao milagre da existência.
Ainda assim, resta uma esperança:
Que o vazio do universo, tão vasto, tão silencioso, desperte em nós — antes que seja tarde — a consciência de que este pequeno planeta azul é o único lar que temos.
E que o verdadeiro poder não está em dominar a Terra, mas em preservá-la.
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Texto de opinião por: Júlio César Fernandes
Autor de artigos reflexivos, contos, poemas e crônicas no Recanto das Letras. Observador atento do cenário geopolítico e crítico da desigualdade social.