Não somos uma única pessoa, mas muitas - todas habitando um único corpo um só cérebro. Temos várias formas de enxergar as pessoa que encontramos em nossa jornada.
Enxergamos de forma diferente as mesmas paisagens e trilhas conforme a nossa realidade presente, no seu contexto.
Então incorremos em momentos nostálgicos das coisas boas que nos aconteceram em épocas passadas, longínquas, séculos atrás.
De repente a gente se vê, novamente caminhando naquela trilha de primavera como se ainda fôssemos aquela pessoa liberta, sonhadora e sem sonhos bem definidos.
Não. Não somos mais aquela pessoa com o vigor e senhor de uma felicidade radiante e insabida. Mas não nos custa trilharmos o mesmo caminho, as mesmas paisagens ladeadas de belas e imponentes árvores, com o olhar enrugado, têmporas franzidas pelo tempo, - com um novo olhar mais perscrutador e introspectivo.
E sim, - por essa razão o tempo passa. Para que possa abrigar outras pessoas e venham somar-se à singularidade da pessoa que fomos e que ainda somos, agora múltiplas.
É bem provável que os pensamentos que em alguns momentos vagueiam minha mente sejam resíduos de atitudes e palavras lassas.
Não, não daria um único dia dos meus dias presentes para passear nos meus dias passados, em tempos e séculos que vivi muito feliz e não sabia.
No entanto me encanta ver essa paisagem deslumbrante e sentir o desejo de trilhá-la a passos mais lentos, olhando e sentindo a textura de folhas, flores. Poder respirar o ar desse paraíso com os sentimentos e sentidos que fizeram morada neste corpo encarquilhado pelo tempo.
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Texto: Trilhando o Caminho da Memória
Autor: Júlio César Fernandes
Série: Imagens & Memórias
Data: 09.03.2024
Foto: Maria [ https://www.recantodasletras.com.br/poesias-de-vida/8008665 ]