Na penumbra da vida, entre sonhos entrelaçados e horizontes que se desvanecem, reside a história do senhor idoso que almejava o cume de uma montanha que se erguia majestosamente ao alcance de sua varanda.
Esse sonho não era apenas uma paixão efêmera, mas sim um desejo antigo, entrelaçado nos tecidos do cotidiano do casal. Era como um fio de amor que, ao longo dos anos, se entrelaçou nas conversas à mesa do café, nas mãos dadas nos passeios ao entardecer e nas risadas compartilhadas em noites aconchegantes.
Em um dia aparentemente comum, a esposa, com o coração repleto de afeto, procurou por seu amado. O silêncio que se seguiu à busca trouxe consigo uma inquietude crescente, mas foi a constatação de sua ausência que lançou uma sombra densa sobre o lar. Ele havia partido em busca do seu sonho mais elevado, um sonho que, nos pequenos gestos cotidianos, ele havia compartilhado com sua companheira de vida: conquistar o topo da montanha.
Com o passar das horas, caiu a tarde, a noite a escuridão do céu estrelado, - iniciando-se as buscas que culminou na dolorosa notícia da partida prematura do amado. O senhor não havia resistido à árdua subida, deixando um vazio tangível no lar que antes compartilhara com a esposa.
Entre o luto e o vazio, um momento de silêncio pairou sobre a casa. No entanto, foi do coração dessa mulher, banhado em amor e compreensão, que emergiu uma indagação singular aos servidores da guarda municipal:
"Ele conseguiu atingir o topo da montanha?"
A profundidade dessa pergunta transcendeu as lágrimas e o pesar imediato, revelando a verdadeira essência do vínculo que compartilhavam.
Era um amor que se alimentava dos pequenos momentos de cumplicidade, dos olhares que comunicavam sem palavras, das mãos entrelaçadas que enfrentavam, lado a lado, os altos e baixos da vida.
Este não era um amor limitado pela tristeza da despedida; era uma celebração da busca do sonho alheio. Antes de permitir que o pesar a consumisse, ela ansiava saber se ele alcançara o auge, se ele havia tocado as estrelas que lhe sussurravam em noites serenas.
E assim, no silêncio da noite, o que ecoava não eram apenas lamentos, mas a reverberação de um amor que transcendia além das fronteiras da vida. Um amor que, mesmo diante da perda, se destacava como um farol brilhante no topo da montanha da existência.
Para todos nós que buscamos o verdadeiro amor, que possamos aprender com esse casal que escreveu sua história nas páginas da vida, onde o amor, a cumplicidade e a paixão se entrelaçam como fios de uma tapeçaria, criando uma obra-prima que transcende o tempo e as estações da vida.
Que possamos, em nossas jornadas, buscar um amor assim, onde os sonhos possam ser compartilhados, e a escalada da montanha da vida seja uma jornada a dois, marcada pela cumplicidade, compreensão e um amor que resiste a todas as estações.
Ps.: 1. História inspirada de uma leitura realizada há décadas em uma das sessões da Revista Seleções do Reader’s Digest. O tempo passou e relembrei dessa história lida há tantos anos.
Ps.: 2. Também inspirada no texto de uma das maiores escritoras deste Recanto das Letras, - Maria:
https://www.recantodasletras.com.br/memorias/7963973
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Meu rascunho de: 30/12/2023.
Série: Histórias Sem Marias
Autor: Júlio César Fernandes