Se você for acometido por uma estranha vontade de desligar-se deste século XXI em busca de histórias amenas [literatura, amor, crítica sobre a aristocracia inglesa, leis etc.] e mergulhar em um mundo de fantasias, belos cenários e beleza, pule sem medo de ser feliz no mundo de Jane Austen.
É um pouco curioso que essa escritora tenha se tornado uma espécie de Pop Star da literatura, com um fã-clube enorme ela se tornou, o que a gente poderia chamar de um fenômeno da cultura de massas.
Jane Austen, nascida em 16 de dezembro de 1775, na Inglaterra, é uma das escritoras mais icônicas da literatura clássica britânica. Sua vida e obras revelam não apenas um talento literário extraordinário, mas também oferecem uma visão única da sociedade e das condições um da mulher na Inglaterra do século XIX.
Jane Austen, apesar das limitações impostas às mulheres na época, abandonou um legado literário impressionante. Durante sua curta vida, escreveu seis romances aclamados: "Razão e Sensibilidade", "Orgulho e Preconceito", "Mansfield Park", "Emma", "Abadia de Northanger" e "Persuasão". Cada obra destaca-se por sua análise perspicaz da sociedade, humor satírico e personagens intricadamente desenvolvidos.
A leitura das obras de Jane Austen oferece vários benefícios:
1. Compreensão Social e Histórica: Os romances de Austen oferecem uma visão aguçada da sociedade britânica do século XIX, destacando normas sociais, hierarquias e expectativas culturais da época.
2. Desenvolvimento de Personagens: Austen é conhecida por suas habilidades na criação de personagens complexos e realistas. A análise das personalidades e motivações de suas figuras pode enriquecer a compreensão do comportamento humano.
3. Sátira e Ironia: Austen é mestre na sátira e na ironia, utilizando esses elementos para comentar sutilmente sobre a sociedade e seus personagens. Isso promove uma leitura envolvente e reflexiva.
4. Habilidades Literárias: A prosa refinada de Jane Austen e suas técnicas literárias oferecem oportunidades para aprimorar a apreciação estética e habilidades de leitura crítica.
5. Exploração de Temas Universais: Embora ambientadas em uma época específica, as histórias de Austen abordam temas universais como amor, casamento, autoconhecimento e a busca da felicidade, tornando-se relevantes em diversas culturas e períodos.
6. Entretenimento Clássico: Os romances de Austen continuam a ser apreciados por sua narrativa envolvente e intrigas românticas, proporcionando entretenimento duradouro.
Ao ler Jane Austen, os leitores têm a oportunidade não apenas de desfrutar de narrativas cativantes, mas também de explorar aspectos fundamentais da natureza humana e da sociedade.
É com ironia e uma apurada percepção da sociedade em que vivia, que Jane Austen abre um dos maiores clássicos de todos os tempos.
Publicado há mais de duzentos anos, Orgulho e Preconceito é um romance atemporal. A história de amor de Elizabeth e Darcy ― envolvente, divertida e repleta de encontros e desencontros.
Então, se você vai ler essas obras e/ou assistir os filmes baseados nos livros, é indispensável conhecer as Leis de Propriedade vigentes à época que a escritora escreveu as obras.
Na Inglaterra do período de Jane Austen, a Lei de Propriedade era regida por costumes e estatutos. Antes da Lei de Propriedade da Mulher Casada de 1882, as mulheres muitas vezes perdiam seus direitos de propriedade ao se casarem, transferindo esses direitos para o marido.
A partir dessa legislação, as mulheres começaram a ter mais controle sobre suas propriedades após o casamento, marcando um avanço nos direitos das mulheres em relação à propriedade.
Antes de mudanças significativas nas leis de sucessão, os proprietários homens muitas vezes enfrentavam restrições ao deixar heranças para filhas mulheres. As leis de primogenitura, por exemplo, favoreciam o filho mais velho, excluindo filhas e outros parentes mulheres da herança. Isso refletia normas sociais e práticas legais que privilegiavam a sucessão masculina. Essas restrições começaram a ser alteradas ao longo do tempo com reformas legais e sociais que buscavam maior igualdade de direitos.
A mudança significativa ocorreu com a Lei de Propriedade da Mulher Casada (Married Women's Property Act) de 1882 no Reino Unido. Esta legislação representou um marco ao conceder às mulheres casadas maior controle sobre suas propriedades.
Antes dessa lei, as mulheres frequentemente perdiam seus direitos de propriedade ao se casarem, transferindo esses direitos para o marido. A Married Women's Property Act foi um passo importante para garantir que as mulheres pudessem manter certos direitos sobre suas propriedades após o casamento.
Convenções Estéticas da época
Na época de Jane Austen, o modo como as mulheres vestiam-se carregava significados sociais e culturais distintos:
1. Cabelos Presos: O hábito de prender os cabelos indicava modéstia e decoro. Mulheres geralmente usavam penteados recatados em público, reservando estilos mais elaborados para ocasiões mais íntimas. Essa prática refletia as normas sociais e expectativas de comportamento feminino na sociedade do século XIX.
2. Vestido Preso na Altura dos Seios: Os vestidos da época frequentemente apresentavam cinturas altas, repousando logo abaixo dos seios. Essa silhueta, conhecida como "cintura império", destacava a feminilidade e proporcionava conforto, permitindo uma maior liberdade de movimento. Além disso, essa moda era uma reação à rigidez dos corpetes anteriores.
3. Uso de Luvas: O uso de luvas era uma prática refinada e simbolizava elegância e etiqueta. Mulheres usavam luvas em eventos sociais para demonstrar respeito e seguir as normas de conduta da época. Luvas eram parte integrante do guarda-roupa e desempenhavam um papel importante na expressão da classe e boas maneiras.
Esses elementos do vestuário não apenas obedeciam às convenções estéticas da época, mas também eram meios pelos quais as mulheres comunicavam sua posição social, conformidade com as normas sociais e respeito pela etiqueta. O vestuário, portanto, era uma linguagem visual que contribuía para a complexa teia de interações sociais na sociedade do século XIX.
A família Austen desempenhou um papel crucial em sua formação. Jane era a sétima filha de uma família numerosa, e seu ambiente doméstico foi marcado por uma educação sólida. Seu pai, reverendo George Austen, proporcionou-lhe acesso à vasta biblioteca familiar, onde ela nutriu sua paixão pela leitura e escrita desde jovem. A influência intelectual da família desempenhou um papel vital em seu desenvolvimento como autora.
A situação da mulher na Inglaterra do século XIX reflete-se nas obras de Austen. Suas heroínas, muitas vezes, enfrentam desafios sociais e econômicos, e o casamento era frequentemente uma questão central em suas histórias.
O casamento ocupa uma posição central nas histórias de Jane Austen devido ao contexto social e econômico da Inglaterra do século XIX.
Naquela época, o casamento não era apenas uma união romântica, mas uma decisão crucial com implicações profundas na vida de uma mulher, especialmente em termos financeiros e sociais.
1. Status Social e Econômico: As mulheres do século XIX frequentemente dependiam do casamento para garantir seu status social e econômico. O casamento bem-sucedido poderia elevar uma mulher na hierarquia social, proporcionando-lhe segurança financeira e respeitabilidade.
2. Herança e Propriedade: A propriedade e a herança desempenhavam um papel significativo. Mulheres solteiras muitas vezes enfrentavam incertezas quanto ao seu futuro financeiro, e o casamento era visto como uma forma de assegurar estabilidade econômica, garantindo propriedades e recursos.
3. Expectativas Sociais: A sociedade da época impunha fortes expectativas sobre as mulheres em relação ao casamento. Não casar ou escolher um parceiro inadequado poderia resultar em estigmatização social e dificuldades financeiras.
4. Autonomia e Agência Feminina Limitadas:
As opções de carreira e a autonomia feminina eram restritas na sociedade do século XIX. O casamento era frequentemente percebido como a principal maneira pela qual as mulheres poderiam exercer alguma forma de controle sobre suas vidas e destinos.
Ao explorar o tema do casamento em suas histórias, Jane Austen oferece uma crítica perspicaz às normas sociais da época.
Suas heroínas, muitas vezes, enfrentam dilemas relacionados a escolhas matrimoniais, destacando as complexidades do amor, das expectativas sociais e da busca por uma vida significativa em um contexto em que o casamento desempenhava um papel determinante na vida de uma mulher.
Austen habilmente explorou as limitações impostas às mulheres, utilizando suas narrativas como um meio de crítica social, enquanto ao mesmo tempo oferecia um olhar aguçado sobre as complexidades do amor e das relações interpessoais.
[A propriedade, conhecida como Steventon House, é o local onde ela nasceu e viveu por 25 anos. O imóvel é do século 16. Foi morando nesta residência que ela escreveu sua obra-prima, o livro “Orgulho e Preconceito” (1813), além de “Northanger Abbey” (1817) e “Razão e Sensibilidade” (1811)].
A condição financeira da família Austen também desempenhou um papel na vida da autora. Jane e sua família enfrentaram desafios econômicos, e essas experiências pessoais se refletem nas lutas financeiras de algumas de suas personagens.
Embora Jane Austen tenha enfrentado desafios financeiros em sua vida pessoal, não há uma correspondência direta e óbvia entre sua situação financeira e as lutas específicas de uma personagem específica em seus romances.
Ela incorporou elementos de suas experiências na representação mais ampla das condições femininas e sociais em seus escritos, mas não há uma personagem singular que seja um espelho exato de sua vida financeira.
Entretanto, em algumas de suas obras, como "Razão e Sensibilidade" e "Mansfield Park", é possível observar personagens femininas que enfrentam dificuldades financeiras e dependem do casamento para garantir seu futuro.
Marianne Dashwood, em "Razão e Sensibilidade", e Fanny Price, em "Mansfield Park", são exemplos de personagens que, de maneiras distintas, vivenciam desafios econômicos ao longo da narrativa.
Embora essas personagens não sejam retratos diretos de Jane Austen ou de suas experiências familiares, elas refletem as preocupações e as complexidades sociais que permeavam a vida das mulheres na época.
Austen, ao criar essas personagens, oferece uma representação mais ampla das lutas enfrentadas pelas mulheres em um contexto socioeconômico que valorizava o casamento como uma garantia de segurança financeira.
Essa abordagem realista e perspicaz contribui para a autenticidade de suas obras, tornando-as atemporais.
Jane Austen faleceu em 18 de julho de 1817, deixando um legado literário que transcendeu as barreiras do tempo. Seus escritos continuam a encantar leitores e a oferecer uma janela única para a sociedade e as condições da mulher na Inglaterra do século XIX.
Austen não apenas desafiou as convenções literárias da época, mas também contribuiu para moldar a narrativa sobre o papel das mulheres na sociedade.
Conclusão
Durante sua vida Jane Austen não experimentou a fama ou o glamour que frequentemente associamos aos autores renomados de hoje.
Austen viveu uma vida relativamente tranquila e, ao contrário de muitos escritores contemporâneos, não era uma figura pública reconhecida durante sua vida.
A decisão de publicar suas obras anonimamente foi uma escolha dela própria, embora possa ter sido influenciada por normas sociais da época.
Jane Austen optou por atribuir seus romances à autoria de "uma dama" (By a Lady). Esse anonimato era comum para autoras do século XIX, pois a literatura escrita por mulheres era muitas vezes menosprezada e não recebia a mesma atenção que a de autores masculinos.
A divulgação do nome da autora, Jane Austen, ocorreu somente após sua morte, quando seu irmão revelou sua identidade literária nas edições póstumas de "Northanger Abbey" e "Persuasion", lançadas em 1818.
A verdadeira notoriedade de Jane Austen veio após sua morte. Ao longo do tempo, suas obras foram reconhecidas por suas contribuições significativas para a literatura e por sua observação perspicaz da sociedade.
Mesmo que o glamour não tenha feito parte de sua vida, em função de sua obra, seu legado literário continua a brilhar, influenciando gerações de leitores e adaptando-se a diversas formas de mídia.
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Autores e sites consultados:
1. Sandra Vasconcelos, professora de literatura inglesa na Universidade São Paulo.
https://youtu.be/DSFWYd5fbmA?si=LPa4Y_fWgtXQBgTK
2. Eneida Queiroz - Poética dos Museus
https://youtu.be/r75RgiRTPdg?si=cWWHHMkONVcQby9o
3. Fotos: Amazon.com.br
4. Filmes disponíveis no: Netflix, Google Filmes, Prime, Google Play.
Pesquisa: Júlio César Fernandes
Meus rascunhos _ dez/2023.
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