Meu Tio Luís
Era uma tarde de domingo quando recebi a visita inesperada da minha tia. Seu semblante carregava uma tristeza profunda, e eu já sabia o motivo. Meu querido tio Luís havia partido deste mundo.
Lembro-me das conversas que tivemos, das risadas compartilhadas e conversas amenas que ele sempre me oferecia.
Ele me fazia visitas regulares na empresa na qual ainda trabalho. Chegava, ficava lá próximo
ao vigilante, com o qual já havia feito amizade.
Do local onde eu sentava já o via. Se estivesse atendendo algum cliente, após o término, ia ao seu encontro e já começávamos a conversar em minha mesa.
Era um homem simples, um mecânico de Jeep e Rural, - tal qual meu saudoso pai, - nunca se importou em se apresentar com as roupas sujas de graxa e óleo diesel. Era assim que ele se identificava, como um verdadeiro "mecânico de automóveis". Papai também utilizava o mesmo traje. Eles diziam que se estivessem melhor vestidos “não seriam identificados” como mecânicos.
Nascido no sertão do Ceará, em 1932, meu tio migrou para a cidade de Aracoiaba na
adolescência. Ele carregava consigo a simplicidade e a humildade de suas origens, mas também uma preocupação que o afligia. Em uma de nossas conversas, ele me confidenciou sua doença e fez um pedido inusitado.
Meu tio Luís me dizia que sentia muita tristeza ao presenciar enterros de pessoas necessitadas, que não tinham um caixão digno para seu último adeus. Ele não queria que isso acontecesse com ele. Com lágrimas nos olhos, pediu-me que eu custeasse as despesas de seu funeral, para que ele pudesse partir com dignidade.
Eu, emocionado e com serenidade, prometi a ele que cuidaria de tudo. Seis meses depois, a triste notícia chegou até mim através da minha tia. Meu tio Luís havia partido. Era hora de cumprir minha promessa.
Com o coração apertado, - esses momentos nunca são fáceis, - organizei cada detalhe do seu funeral. Escolhi um caixão simples, mas digno, para que ele pudesse descansar em paz. Reunimos familiares e amigos para se despedirem dele, compartilhamos histórias e lembranças que nos traziam sorrisos e lágrimas ao mesmo tempo.
Naquele momento, percebi o quanto meu tio era amado e respeitado por todos. Sua simplicidade e generosidade tocaram a vida de muitas pessoas, assim como a minha. Ele deixou um legado de humildade, honestidade e compaixão.
Hoje, olhando para trás, sinto gratidão por ter tido a oportunidade de conhecer e conviver com meu tio Luís. Seu pedido inusitado me ensinou a importância de valorizar cada momento e a importância de cuidar daqueles que amamos, mesmo após sua partida.
Meu tio Luís, o mecânico de Jeep e Rural, um homem de poucas posses, partiu, mas deixou uma marca indelével em nossos corações. Que sua alma descanse em paz, sabendo que seu pedido foi cumprido e que ele foi honrado com um adeus digno.
***
(*) Nota: Agradecimento especial à poeta e escritora Maria, do Recanto das Letras que, em uma interação, me estimulou a fazer esse registro em memória do meu pai e do meu tio, Luís.
Meu Rascunho de: 30.09.2023
Título: Meu Tio Luís & Eu
Autor: Júlio César Fernandes
Ps.: Aos que venham a ler este texto: não voltarei para possíveis ajustes.
Caso haja erros, falhas de digitação etc., - peço relevar.
Meu rascunho: Família – Meu Tio Luis.
28/06/2023.