Julio César Fernandes
🎼
Textos

Sitio Santa Clara - Serra de Baturité - Passeios em férias

1638625.png
A foto não é original (ainda) da casa principal, mas a frente e laterais são similares. Há  uma jaqueira enorme, na lateral esquerda, distante uns vinte metros da entrada principal. 
 

O início da década de setenta marcou a minha adolescência, - já tinha passado pelos quinze anos e todos os eventuais traumas já haviam sido superados. 

 

Quando o mês de férias das atividades escolares  (julho) se aproximava ficávamos todos muito ansiosos: Pedro Delano, Dautin (irmãos) Bonfizinho Braga, Bonaldo Braga (irmãos) Mardônio (tio ?) de Bonfinzinho e Bonaldo , Alano Bastos, Vanderilo, Batista,  Torres e eu, o menos desprovido de qualquer recurso financeiro, mas um milionário por ter tido o privilégio de conviver por muitos anos com as famílias Braga e Cavalcante. 

 

Torres, uma ovelha perdida, estragou um de nossos passeios naquele ano de férias, - maculando a nossa boa índole com seus desenhos em todas as paredes da casa que, anteriormente havia abrigado o casal Braga. 

 

Jesus! Aquilo realmente “maculou” a todos nós, - com certeza D. Renê não ficou nada satisfeita. 

 

Na casa principal ficávamos sob os cuidados de D. Raimunda ( irmã do Nascimento e do Nonato) que era a cozinheira da família e cuidava de todos nós, da alimentação e outros. Hoje D. Raimunda está com 104 anos, mora em Mulungu- CE., com uma sobrinha, que cuida muito bem dela. Atualmente nao consegue mais andar e tem uma audição muito ruim, - mas o fato de ainda estar entre nós é uma benção. Essa lembrança sobre D. Raimunda me chega através do querido amigo Bonfinzinho, que me lembra, também do Nonato, Lembro-me perfeitamente das feições de ambos. 
O Nonato, irmão de Nascimento ocupava a função de feitor do Sítio. 

 

O Nascimento, de fartas gargalhadas, - me lembra o amigo e irmão Dautin, fumava um cigarro de palha forte e quando bebia aguardente em um dia da semana , ficava louco. Nós não entendíamos o porquê, somente muito anos depois as minhas lembranças chegaram a essa conclusão: era aguardente que ele tomava. 

 

A casa em referência localizava-se na propriedade a uns duzentos metros da casa principal, lá acima de uma ladeira com inclinação de mais de cinquenta graus de inclinação. Mulungu, situada na Serra de Baturité fica a 801 metros de altitude. Sua população estimada em 2021 foi de 11.056 habitantes. Possui uma área de 103,86 km².

 

Então, aquela casa era o local onde dormíamos e conversarmos amenidades, antes de sermos vencidos pelo sono, - não antes de havermos comido um caçoar de tangerinas  🍊, frutos que abundavam no sítio. Que eu lembre, exceto o café, tangerinas e bananas 🍌 formavam um espetáculo integrante da lindíssima localidade. Eram destinados aos pássaros e eventuais visitas. 

 

A paisagem entre a casa principal e casa que ficávamos era riquíssima em natureza: arborizada por enormes ingazeiras, goiabeiras, pés altos de azeitonas 🫒, pastagem nativa e um riacho natural de águas geladas que cortava toda a propriedade. 

 

Águas de nascentes do alto da serra, de onde ouvíamos o canto da Araponga, cujo som ecoava qual uma martelada em ferro. Nunca a vimos, mas era lindo ouvir e sentir a magia do lugar. 
 

1638626.png

Araponga
 

O riacho passava majestoso pela propriedade. Ao lado da casa que ficávamos o desafio era fazer a higiene matinal e antes do jantar, haja vista que a água era muito fria, constantemente gelada. 

 

Posteriormente, ainda no período que fazíamos os passeios, a família construiu uma Capela em homenagem à Santa da qual Seu Bonfim sempre foi devoto: Santa Terezinha. Houve uma missa para festejar tal evento. A capela fica localizado a uns cinquenta metros de distância, à esquerda da casa principal. Com uma escadaria inclinada para o acesso. 

 

Lembro de ter-nos reunido, em nossos passeios… Lá do alto avistávamos TODAS as estrelas da nossa galáxia.

Ao violão cantava, entre outras músicas de Pe. Zezinho, Roberto e Erasmo, - Che Sará, Sará.

Também era momento de orações. 🙏

 

https://youtu.be/v_KsmxvXcp8

 

Descendo a ladeira da casa principal em direção ao engenho de cana de açúcar havia um poço profundo, super gelado, ao qual Seu Bonfim apelidou de “Poço do Juízo”. 

 

Era tarefa certa irmos banhar-nos nesse poço. Com certeza saiamos renovados após o rápido banho. 

Essa cena acontecida por mais de uma vez, - quando já acompanhado da minha família íamos para o Sítio Santa Clara para a moenda de cana de açúcar: esticar o alfenim e beber caldo de cana. Era uma festa!! 

 

Seu Bonfim reservava uma parte de canas especialmente para estes momentos, para os quais tivemos a felicidade de participar por mais de uma vez, com minha família, juntamente com Pimenta e Graça, entre os familiares da casa. 

Ele guardava sempre um bom uísque ou uma aguardente antiga, - da qual tomava um trago, sob o olhar discreto de santa compreensão de D. Renê. 
 

1638627.png

1638628.png
1638629.png

1638630.png
Alfenim

 

Retornando aos passeios de adolescentes, como não lembrar das caçadas, quando saíamos cedinho da manhã para a localidade conhecida como Gameleira… 

 

Uma pequena floresta formada por altos pés de Gameleiras, entre pés de café, quando tentávamos abater alguma caça - creio que naqueles anos a palavra “preservação” ainda não havia sido cunhada. E a espingarda velha, uma “socadeira”, que se negou a atirar, devolvendo muita pólvora no rosto e braços. Que susto! A natureza se protegendo. 

 

Essas manhãs eram cobertas de névoa. 
 

1638631.png
As estradas das fotos abaixo são muito parecidas com as que fazíamos nossas caminhadas para ir e vir. 
 

1638632.png

1638633.png
 

Voltando aos momentos de preparação para o passeio ao Sítio de Santa Clara, o percurso saindo de Batutite a Mulungu era feito à pé. Isto mesmo, - à pé. E era maravilhoso!!! 21 km percorridos à pé entre trilhas. 

 

Este que ora relembra os momentos inesquecíveis aqui narrados, era o mais necessitado de todos os meninos. 

 

O pouco que os meus pais podiam contribuir era entregue a D. Renê que nunca usou métricas para estabelecer sua generosidade, que nunca alterou a voz, - uma única vez que fosse, ao dirigir-se aos filhos e à todos que têm o prazer do seu convívio. Uma senhora de educação ímpar. 

 

Deus coloca em nossas vidas muitos anjos para nos guiar e proteger, abrir portas, mostrar o melhor caminho.  Todas as pessoas aqui citadas são anjos que o Senhor colocou no meu caminho e na minha vida. 

 

Os passeios ao Sítio Santa Clara são tudo de melhor, - que enfeitam e adornam as minhas lembranças e da minha família e estarão sempre conosco. 

 

                                      ***

Atualmente a Serra de Baturité possui inúmeras e excelentes pousadas, hotéis propícios aos que buscam um lugar em meio à floresta para descanso e fazer trilhas. 

 

Versão 1. 

29.07.2023

Julio Cesar Fernandes
Enviado por Julio Cesar Fernandes em 29/07/2023
Alterado em 07/08/2023
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras